08/07/2025 às 03:14 Coberturas

A mão do príncipe

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2min de leitura

A fotografia tem esse poder quase mágico de congelar o tempo. E às vezes, quando estamos atentos — corpo e alma no jogo — ela nos presenteia com instantes que ultrapassam o esporte. Foi exatamente isso que vivi naquele dia, na Vila Belmiro.

O Santos enfrentava o Botafogo-RJ. Clássico histórico. E em campo, Neymar — o camisa 10, o craque, o herdeiro da camisa mais pesada do futebol mundial: a de Pelé.

Era um jogo tenso, amarrado. E num lapso instintivo, daqueles que só os grandes tentam e arriscam, Neymar trocou os pés pelas mãos. Literalmente. Em sua ânsia de decidir, de fazer o gol, esticou o braço e colocou a mão na bola. O árbitro não hesitou: cartão vermelho. Expulsão direta.

Na sequência, o Santos sofreu o gol. Derrota por 1 a 0. E ali, diante da torcida na Vila, Neymar se despedia — ainda sem saber se renovaria o seu contrato que estava prestes a se encerrar — do clube que o revelou para o mundo. Na rodada seguinte, contra o Fortaleza cumpriria suspensão. Depois, viria a pausa para o Mundial de Clubes. Mas dias depois a confirmação: Neymar renovaria com o Santos. Mas até aquele momento, esse poderia ter sido o último lance dele com a camisa do Peixe na Vila Belmiro.

E é justamente esse instante — raro, decisivo e simbólico — que consegui registrar.

Não foi sorte. Ou pelo menos não só. Eu era o único fotógrafo posicionado na linha de fundo do lado oposto dos demais fotógrafos. O único com o campo de visão aberto para aquele ângulo específico. A foto mostra Neymar no auge da tensão, no ápice do gesto, e numa expressão que diz tudo. O momento exato. A história pulsando diante da lente.

Costumo dizer que meu trabalho é feito de atenção plena. Não busco quantidade de cliques, mas qualidade nos instantes. Ficar presente o tempo todo, respirar o jogo, antecipar o improvável. É isso que me move. Lances e momentos registrados como esse é como o gol do fotógrafo.

E se hoje essa imagem existe, é porque estava lá, inteiro. Como dizia Picasso — frase que carrego comigo como mantra:

“Sim, eu tenho sorte. Mas ela sempre me encontra quando estou trabalhando.”

08 Jul 2025

A mão do príncipe

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